FECHOU 2015: QUE PIB É ESSE? QUE JUROS BÁSICOS SÃO ESSES?
SERÁ QUE O BACEN VAI EXPLICAR QUANTO AUMENTOU A DIVIDA PÚBLICA TENTANDO REDUZIR A INFLAÇÃO? E POR QUE NÃO REDUZIU A INFLAÇÃO?

Nesses últimos dias parei para analisar 2 relatórios elaborados pelo EUROSTAT (que é o IBGE da União Europeia). São os RELATÓRIOS DE DADOS PARA ANÁLISES ECONÔMICAS DE CURTO PRAZO. Gostei tanto dos Editoriais dos Relatórios 11 e 12 de 2015, que decidi traduzir parte deles, por minha conta e risco. Logo mais abaixo publico a tradução. 

Estimo que são úteis esses dados para nosso debate sobre os desafios do Brasil em 2016. São resultados muito recentes (11-Dez-2015), abrangentes e importantes pra entender o cenário internacional, pra nos comparar com o mundo, e pra nos preparar para os debates de 2016.  

É que em Dezembro e Janeiro costumo atualizar meu banco de dados com os números mais importantes da economia, finanças públicas e indicadores de evolução dos direitos fundamentais. É um banco de dados que ajuda a ler os principais desafios de concretização dos direitos constitucionais. Deve virar um capítulo de livro sobre Direitos, Segurança Social e a Constituição do Brasil, que pretendo lançar em 2016.

O que me chamou a atenção, e despertou interesse em compartilhar essas informações a seguir, foi o modo como Estados Unidos e União Europeia agiram pra recuperar (ligeiramente) o crescimento em 2015 e como a China está agindo pra conter a retração do PIB que estão enfrentando. Basicamente há um esforço pra reduzir taxas básicas de juros, estimular o investimento produtivo e o consumo.

Chama a atenção, igualmente, as medidas adotadas pela Africa do Sul que, a despeito dos números negativos, obteve bons resultados em 2015 com forte incentivo ao setor industrial.

Quem se dispuser a ler esses recentes relatórios publicados pelo EUROSTAT, sobre as medidas adotadas pelos Estados Unidos, União Europeia e pela China para encarar o cenário de crise, vai ver que: reduzir juros básicos é necessário não só pra conter a expansão da dívida pública, mas pra estimular o crédito e a retomada de investimentos e consumo.

Vai concluir -- talvez como eu --- que isso é necessário para o Brasil, posto que só poderemos retornar ao limite prudencial de relação entre divida e PIB (que é de ter uma dívida bruta de 60% do PIB) se o PIB voltar a crescer. Só com cortes de gastos públicos não vai dar pra reduzir 10% de nossa dívida bruta: vamos pro buraco! E, mais ainda, nosso ajuste fiscal precisa ser tal que estimule a produtividade do setor industrial.

Por outro lado, após 12 meses de Joaquim Levy e Tombini, vai ficando cada vez mais claro que a nossa inflação é causada por 3 elementos principais: 1) pelo impacto da depreciação do real, isto é, pela repercussão dos preços em dólar em nosso mercado interno; 2) Pelo choque da elevação de preços públicos (energia, combustíveis) e 3) pela elevação de impostos estaduais e federais.

Bem: inflação desse tipo não se bate com juros estratosféricos. Juros altos fazem sentido se a inflação for causada por excesso de demanda. O Bacen tem de evidenciar isso ou mudar sua política de juros altos. Não é republicano fazer o oposto.

Veja agora a versão em português dos Editoriais destes 2 relatórios RELATÓRIOS DE DADOS PARA ANÁLISES ECONÔMICAS DE CURTO PRAZO. A versão completa em inglês do Relatório 11/2015 está aqui. E a versão original em inglês do Relatório 12/2015 está aqui.

A segunda estimativa de crescimento do PIB dos EUA para o período do 3o Quadrimestre - 3Q/2015 subiu para 0,5%. Porém, isso indica um declínio, pois o crescimento do 2o Quadrimestre/2015 (2Q/2015) foi de 1,0%. Esse 3Q/2015 é o sexto de expansão para a economia dos EUA. Contribuições positivas para esse crescimento vieram de gastos dos consumidores, gastos do governo local e central, investimento empresariais, exportações e investimento residencial. A atual estimativa de crescimento anual do PIB dos EUA (para o ano de 2015) subiu para 2,2%. Contudo, ainda é declinante, pois no 2Q/2015 estimava-se que o crescimento deste ano seria de 2,7%.

Em relação aos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a economia desacelerou ligeiramente na China, com uma estimativa de crescimento do PIB de 6,9% no 3Q de 2015 (diminuindo ligeiramente de 7,0%, que foi o realizado no 2Q). No entanto, a taxa de crescimento quadrimestral do PIB manteve-se constante em 1,8% no 3Q de 2015 em relação ao 2Q. O Banco Central chinês decidiu reduzir as taxas de juros em outubro de 2015 - pela sexta vez neste ano - para impulsionar o crescimento (cfe. EuroStat, Relatório 11/2015, p.5). Mas o crescimento ainda está perdendo força na China, já que a taxa de crescimento anual do PIB foi de 7,8% no 3Q/2013 e agora será de 6,9% no 3Q/2015.

A economia acelerou na India, com uma taxa de crescimento de 1,9% do PIB no 3Q/2015, após crescer 1,7% no 2Q/2015. A taxa de crescimento anual do PIB diminuiu para 7,1% no 3Q (estimava-se no 2Q que seria de 7,3%). Desde o 2Q/2015 a economia da India cresce mais do que a da China.

[A taxa básica de juros da India é, atualmente, 6,75%. Mas 2015 foi um ano que o Reserve Bank da India cortou as taxas básicas por 4 vezes sucessivamente. A política de taxa básica de juros, (Repurchase Rate) na INDIA é chamada de Policy Repo Rate: Veja o relatório de 01 Dec 2015]

A economia da África do Sul apresentou crescimento de 0,2% no 3Q/2015, depois de uma contração de 0,3% no 2Q/2015. A indústria de manufaturados foi o que mais contribuiu para essa expansão. No entanto, a taxa de crescimento anual do PIB diminuiu: será de 1,2% (no 2Q/2015 estimava-se que o crescimento anual de 2015 seria de 1,6%)

[Para ver dados sobre o desempenho da economia sul-africana desde 2006, veja esta matéria do Financial Times, de 19.11.2015 ]

[A taxa básica de juros da Africa do Sul é, atualmente, 6,25%. Neste 2015 o South African Reserve Bank elevou as taxas básicas por medo da inflação. A taxa básica de juros, (Repurchase Rate) na Africa do Sul é chamada de Repo Rate: veja os dados oficiais aqui.

A deterioração da economia brasileira se agravou no 3Q/2015 de acordo com o IBGE. O PIB contraiu 1,7% no 3Q/2015, depois de uma contração de 2,1% no 2Q/2015. A taxa anual de retração do PIB é estimada em 4,5% nesse 3Q/2105 (no 2Q estimava-se que seria de 3,0%). Este 3Q/2015 representa o sexto quadrimestre de contrações, na série das taxas de crescimento anual do PIB do Brasil. (A taxa de desemprego aumentou de 4,9% em setembro 2014 para 7,9% em setembro de 2015. Além disso, em outubro de 2015, a taxa de inflação acumulada nos últimos doze meses (o IPCA-15 do Brasil) estava perto de dois dígitos, em 9,77%. (cfe. EuroStat, Relatório 11/2015, p.5)

A Rússia ainda não divulgou os dados do PIB no 3Q/2015, mas também está em uma situação difícil.  O PIB retraiu 2% no 2Q/2015, a quarta retração em série. A taxa de redução anual do PIB caiu de -2,2% (estimativa do 1º trimestre) para -4,5% no 2º trimestre de 2015. A baixa dos preços internacionais do petróleo continuam a pesar sobre a economia da Rússia. (Ver tb. EuroStat, Relatório 11/2015, p.5)

[Para ver dados sobre o desempenho da economia russa de 1993 a 2013, veja esta matéria do FocusEconomics]

[A taxa básica de juros da Russia é, atualmente, 11%. Neste 2015, o Central Bank of the Russian Federation (Bank of Russia), elevou as taxas básicas por medo da inflação. A taxa básica de juros, (Repurchase Rate) na Russia é chamada de Key Rate: veja os dados oficiais, aqui.  

União Europeia e zona euro: crescimento levemente declinante em 2015.

O PIB desacelerou levemente na zona do euro com uma taxa de crescimento de 0,3% no 3Q/2015, após 0,4% no 2Q. De acordo com a segunda estimativa, a taxa de crescimento anual do PIB manteve-se estável em 1,6% no 3Q/2015 em relação ao segundo. Em 2015, o consumo privado cresceu 0,4%, o consumo do governo 0,6%, as exportações 0,2%, enquanto que a formação bruta de capital fixo manteve-se estável. As importações cresceram 0,9%, a mesma taxa que no 2Q/2015, mas inferior à taxa de 1,9% registrada no 1Q/2015.

O PIB da UE também desacelerou levemente, com uma taxa de crescimento trimestral de 0,4% no 3Q/2015, após um crescimento de 0,5% no 2Q. A taxa de crescimento anual do PIB manteve-se estável em 1,9% no 3Q 2015.

Em 3 de dezembro, 2015, o Conselho dos Governadores do Banco Central Europeu decidiu manter inalterada a taxa de juros aplicável às operações principais de refinanciamento em 0,05%.

O BCE ampliou esforços relativos ao Programa de Compra de Ativos. O Federal Reserve dos EUA (que é o Banco Central dos EUA) e o Banco do Japão decidiram manter inalteradas as suas taxas básicas em 0,25% e 0,1%, respectivamente. A taxa básica do Reino Unido está inalterada em 0,5% desde março de 2009.  (...) A taxa de Juros de Longo Prazo do EU 28 diminuiu para 1,43% em outubro, ante 1,59% em setembro.

Um país que precisa retomar investimentos, e portanto a demanda, precisa de taxas básicas de juros ao menos semelhantes com a dos principais concorrentes internacionais.

Afinal, a quem interessa manter essa elevadíssima taxa de juros que, por um ano inteiro não foi capaz de trazer a inflação para o teto da meta, não estimulou investimentos e só ampliou a dívida pública?


Comentários

Postagens mais visitadas