DEMOCRATAS-"LIBERAIS": o PFL só mudou de nome?


Os liberais, doravante, querem ser conhecidos como democratas. Para isso mudaram de nome mas para serem melhor percebidos como ajustados aos princípios da democracia liberal. Incorporaram também alguns compromissos com políticas sociais, sem muita ênfase.
Segundo o Presidente do novo partido, Deputado Rodrigo Maia-RJ, os Democratas começaram a existir em 2004. A gota d´água parece ter sido o primeiro mandato do presidente Lula, que evidenciou o fim do ciclo econômico de liberalização da economia e, ao mesmo tempo, a consolidação da democracia: daí em diante o Brasil se preparou para a circulação de elites no poder, ou, em suas palavras, para trocas de comando sem traumas de espaço a todos os grupos ideológicos. O novo Presidente é taxativo: "o papel da Frente Liberal se esgotou". Se foi essencial na sustentação dos governos democráticos de 1985 a 2002, deixou de ter razão de existir a partir do governo Lula.
Outro motivo, no entanto, importante para a extinção da sigla foi o péssimo resultado eleitoral de 2006. O PFL já não cabia mais no novo ciclo da política brasileira. "Estamos com nossa atuação basicamente concentrada no Parlamento. Só temos um governador, o do Distrito Federal. Perdemos as máquinas administrativas e precisamos encontrar uma nova forma de fazer política", afirma Rodrigo Maia.
Esta nova sigla vem sendo apresentada como um Partido que não é nem de direita, nem de esquerda. Segundo o próprio site oficial do partido, os DEMOCRATAS defenderão bandeiras liberais não só na economia, mas também na agenda social, na garantia das liberdades do cidadão e até na pauta do debate ambiental. Mas o que é isso, então?
Sem muito esforço se percebe que essa mudança sinaliza um deslocamento moderado para o centro. Mas os Democratas continuarão sendo um partido de direita. A solução de alterar o nome é inteligente. A expressão “liberal” tem na américa latina um sentido muito negativo, conservador. E em tempos de governos de esquerda, este é um péssimo símbolo político. Pretendem então se descolar dessa imagem de partido de direita para ser centro-direita. Pelo perfil das novas lideranças, é possível acreditar nisso. Mas o principal argumento para validar esse deslocamento ideológico é o da preocupação social do novo partido. Eles incluíram na agenda algumas metas sociais como o bolsa-família, o sistema de cotas na educação, e também a questão ambiental. Mas a visão de agricultura continua sendo focada no grande negócio exportador. O Estado permanece visto como um vilão e por isso deve ser reformado, e o mercado continua sendo visto como um ambiente competitivo que precisa apenas de ajustes para criação de oportunidades adequadas a todos. Os DEMOCRATAS apresentam as seguintes propostas:
1 - Reformar a Previdência (novo sistema com regime de repartição, formando uma espécie de poupança forçada para quem ingressar no mercado de trabalho). São contra a taxação dos inativos; 2 - Fim da reeleição e mandato de 5 anos; 3 - Aprofundar as discussões sobre cotas raciais na educação; 4 - Banco Central independente; 5 - Políticas especiais para o setor agroindustrial (financiamentos, tecnologias, vigilância sanitária, política de redução de gasto público e de tributação); 6 - Manter a política de superávit primário das contas públicas, até fazer a reforma do Estado; 7 - Manter a política de metas da inflação; 8 - Aprimorar o programa Bolsa-família (premiar, progressivamente, as famílias que vão obtendo bons resultados com a educação dos filhos, do ensino fundamental à universidade; 9 - Reforma política: querem fidelidade partidária (quem muda de partido deve ficar 4 anos na nova sigla para então se candidatar); proibição de coligações proporcionais; voto distrital misto ou sistema de listas partidárias; financiamento público: no entanto, só depois de aprovada a fidelidade partidária e novo sistema eleitoral; restabelecer a cláusula de desempenho; retornar à discussão sobre o sistema Parlamentarista de governo; 10 - Redução da carga tributária.
Seus postulados fundamentais, todos liberais, são então a ampliação de oportunidades e de acesso; melhoria da qualidade dos serviços públicos; fortalecimento e o aperfeiçoamento da cultura democrática; luta contra a tentação populista; redimensionamento do Estado; redução dos impostos e qualidade da educação e a questão ambiental.
Está claro que os ex-pefelistas, com este novo Partido, assumem publicamente uma crise de identidade já percebida há alguns anos. Querem deixar de lado o compromisso com um neoliberalismo próprio dos anos 90, que lhes desgasta, e incorporar parte da agenda social que sempre esteve no discurso do PSDB. Pelo que se pode compreender, querem ser Democratas Liberais. E não Social-Democratas. Essas recentes mudanças, entretanto, aproximam esses dois partidos mais do que os distinguem. Devem disputar os mesmos eleitores (a classe média urbana e velhos e tradicionais redutos do antigo PDS), apesar de pretenderem tirar votos do PT. O que os distingue do PSDB, ainda, é o perfil sócio-biográfico de suas lideranças, e em campanhas isso faz diferença. Mas as metas são muitíssimo semelhantes. Eis aí um risco. Na pior das hipóteses, o PSDB terá mais eleitores. Na melhor, fica tudo igual para os democratas-liberais.

Comentários

Postagens mais visitadas