CAUSAS "MENOS" SUPERFICIAIS DA CRISE ECONÔMICA ATUAL


A VISÃO DO FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL

Em relação ao Brasil, você mencionou incerteza e parte da incerteza foi inicialmente relacionada com as eleições. Essa incerteza foi resolvida, mas houve uma precipitação da investigação sobre a Petrobras, que claramente tem afetado a confiança e contribuiu para a incerteza, nomeadamente em matéria de planos de investimento da empresa. Isso também é afetado pelo que está acontecendo com os preços do petróleo. Por fim, o que eu gostaria de mencionar é que a política monetária tem apertado para lidar com as pressões inflacionárias, e que tende claramente para colocar uma quebra na procura interna. Então, baixo investimento, a fraca confiança, e política monetária mais apertada são fatores que moldaram a nossa avaliação da previsão, para além deste repensar os efeitos dos preços mais fracos das commodities. (Transcript of a Press Briefing on the World Economic Outlook (WEO) Update Beijing, January 20, 2015; Gian Maria Milesi-Ferretti, Deputy Director, Research Department, http://www.imf.org/external/np/tr/2015/tr012015.htm)

A VISÃO DO COMITE DE POLITICA MONETÁRIA, DO BANCO CENTRAL DO BRASIL, PUBLICADA NA ATA DE 12.03.2015 (http://www.bcb.gov.br/?COPOM189)

1. As informações disponíveis sugerem certa persistência da inflação, o que se reflete, em parte, na dinâmica dos preços no segmento de serviços. Taxas de inflação elevadas geram distorções que levam a aumentos dos riscos e deprimem os investimentos. Essas distorções se manifestam, por exemplo, no encurtamento dos horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos, bem como na deterioração da confiança de empresários. O Comitê enfatiza, também, que taxas de inflação elevadas subtraem o poder de compra de salários e de transferências, com repercussões negativas sobre a confiança e o consumo das famílias. Por conseguinte, taxas de inflação elevadas reduzem o potencial de crescimento da economia, bem como de geração de empregos e de renda.
2. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), da Fundação Getulio Vargas (FGV) atingiu o menor valor da série histórica iniciada em setembro de 2005
3. A atividade fabril avançou 2,0% em janeiro, após recuar 3,2% em dezembro. Mas o setor industrial acumula, nos últimos doze meses, variação negativa de 3,5% em janeiro de 2015.
4. A taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas cobertas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) situou-se em 5,3% em janeiro, com aumento de 1,0 p.p. em relação ao mês anterior e de 0,5 p.p. em relação a janeiro de 2014. Dados disponíveis indicam estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho, embora, na margem, indiquem processo de acomodação.
5. O Índice de Confiança do Comércio (ICOM), medido pela FGV, recuou 8,8% em fevereiro, atingindo o menor nível da série histórica. O Copom avalia que a trajetória do comércio continuará sendo influenciada pelas transferências governamentais, pelo ritmo de crescimento da massa salarial real e pela expansão moderada do crédito.
6. O deficit em transações correntes acumulado em doze meses atingiu US$90,4 bilhões em janeiro de 2015, equivalente a 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB).
7. No que se refere à economia global, a Europa, em que pesem ações de política monetária recentes, altas taxas de desemprego, aliadas à consolidação fiscal e a incertezas políticas, constituem elementos de contenção de investimentos e do crescimento. As taxas de inflação permanecem em níveis baixos nas economias maduras e em níveis relativamente elevados nas emergentes.
8. Quanto a Commodities, o preço do barril de petróleo do tipo Brent atingiu patamares próximos a US$60. Cabe ressaltar que a complexidade geopolítica que envolve o setor de petróleo tende a acentuar o comportamento volátil dos preços, que é reflexo, também, da baixa previsibilidade de alguns componentes da demanda global e oferta.
9. Desde a reunião anterior do Copom, os preços internacionais das commodities agrícolas avançaram 0,34%, enquanto os preços das metálicas recuaram 9,14%. Por sua vez, o Índice de Preços de Alimentos, calculado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), recuou 14,0% em doze meses até fevereiro de 2015.
10. O cenário de referência leva em conta as hipóteses de manutenção da taxa de câmbio em R$2,85/US$ e da taxa Selic em 12,25% ao ano (a.a.) em todo o horizonte relevante.
11. Embora reconheça que outras ações de política macroeconômica podem influenciar a trajetória dos preços, o Copom reafirma sua visão de que cabe especificamente à política monetária manter-se especialmente vigilante, para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longos.
12. O Copom considera que, desde sua última reunião, permaneceram elevados os riscos para a estabilidade financeira global. Apesar de identificar baixa probabilidade de ocorrência de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais, o Comitê pondera que o ambiente externo permanece complexo.
13. Perspectivas indicam recuperação da atividade em algumas economias maduras. Importantes economias emergentes experimentam período de transição e, por conseguinte, de moderação no ritmo de atividade, em que pese a resiliência da demanda doméstica.
14. O Copom pondera que as taxas de crescimento da absorção interna e do PIB se alinharam e que o ritmo de expansão da atividade doméstica este ano será inferior ao potencial.
15. O ritmo de atividade tende a se intensificar na medida em que a confiança de firmas e famílias se fortaleça. Além disso, o Comitê avalia que, no médio prazo, mudanças importantes devem ocorrer na composição da demanda e da oferta agregada. O consumo tende a crescer em ritmo moderado; e os investimentos tendem a ganhar impulso.
16. Não obstante a concessão, este ano, de reajuste para o salário mínimo não tão expressivo quanto em anos anteriores, bem como a ocorrência de variações reais de salários mais condizentes com as estimativas de ganhos de produtividade do trabalho, o Comitê avalia que a dinâmica salarial ainda permanece originando pressões inflacionárias de custos.
17. Para o Copom, o fato de a inflação atualmente se encontrar em patamares elevados reflete, em grande parte, a ocorrência de dois importantes processos de ajustes de preços relativos na economia – realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres. O Comitê considera ainda que, desde sua última reunião, entre outros fatores, a intensificação desses ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável para este ano. Nesse contexto, e conforme antecipado em Notas anteriores, esses ajustes de preços fazem com que a inflação se eleve no curto prazo e tenda a permanecer elevada em 2015. Ao tempo em que reconhece que esses ajustes de preços relativos têm impactos diretos sobre a inflação, o Comitê reafirma sua visão de que a política monetária pode e deve conter os efeitos de segunda ordem deles decorrentes.
18. O Copom avalia que o cenário de convergência da inflação para 4,5% em 2016 tem se fortalecido. Para o Comitê, contudo, os avanços alcançados no combate à inflação – a exemplo de sinais benignos vindos de indicadores de expectativas de médio e longo prazo – ainda não se mostram suficientes.

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