CPMF: contradições do PT, PSDB e de politicos paranaenses


Voto depende do interesse político


Entrevista publicada pelo jornal GAZETA DO POVO, CADERNO BRASIL CONGRESSO, edição impressa de 07/10/2007


Curitiba – Pertencer a um ou a outro partido parece ser o fator determinante da forma como um deputado federal vota. Essa é a conclusão a que se chega ao analisar a maneira como as legendas se posicionaram na criação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), em 1996, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e na quarta prorrogação do tributo, este ano, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Onze anos atrás, 72 dos 75 deputados tucanos que participaram da votação disseram “sim” à criação da CPMF. Do outro lado, 46 dos 47 petistas presentes à sessão foram contrários ao imposto. Em todos os partidos que apoiavam o presidente Fernando Henrique Cardoso – PFL (atual DEM), PMDB, PPB (atual PP) e PTB – a maioria dos parlamentares votou a favor da CPMF.A situação atual é inversa. Os 79 petistas que participaram da votação em primeiro turno querem que a cobrança da CPMF seja mantida. Os aliados, como PMDB, PR (ex-PL) e PTB, também votaram a favor do imposto. Na outra ponta estão os tucanos. Dos 51 deputados federais do PSDB que votaram no dia 19 de setembro, 50 disseram “não” à manutenção da CPMF. O DEM (ex-PFL), que também está na oposição, tomou a mesma atitude.

Lá e cá

Dentro dessa realidade, deputados federais que exerciam mandato em 1996 e também na atual legislatura, em alguns casos, votaram de formas diferentes nas duas ocasiões. Na bancada paranaense, isso aconteceu com os deputados Luiz Carlos Hauly (PSDB), Dilceu Sperafico (PP) e Ricardo Barros (PP).Quinta-feira, de Brasília, Hauly afirmou que o fato de ele ter votado a favor da criação da CPMF e agora ser contrário à prorrogação do imposto não tem nada a ver com a orientação do partido. O tucano disse que, em 1996, a criação da CPMF tinha um objetivo definido, que era ajustar a situação na área da saúde. Além disso, a alíquota era menor e havia um prazo estipulado para o encerramento da cobrança do imposto, citou o deputado.Hauly afirma que este ano votou contra a prorrogação da cobrança da CPMF, em primeiro turno, porque o momento econômico é muito diferente. “A conjuntura é favorável, a economia está crescendo, e o governo tem superávit. As condições mudaram”, completou.Já Dilceu Sperafico (PP) garantiu que é contra o aumento da carga tributária e, por isso, disse “não” à CPMF em 1996. Mas este ano ele votou pela prorrogação porque o seu partido, o PP, fechou questão nesse assunto e decidiu apoiar o governo. Sperafico lembrou que, neste momento, é a fidelidade partidária que está comandando as decisões. “Todos do PP no Paraná votam pela prorrogação da CPMF”, afirma o deputado. Além dele, Ricardo Barros e Nelson Meurer são os deputados federais do partido no estado.

Ricardo Barros, em 1996, votou contra a CPMF, apesar de o seu partido na época, o PFL (atual DEM) ser da base de sustentação do governo de Fernando Henrique Cardoso. O deputado disse que a forma de votar não é uma decisão do partido, mas do parlamentar. Agora no PP, Barros é vice-líder do governo na Câmara dos Deputados. Ele afirmou que vota pela prorrogação do tributo por “obrigação de ofício”, mas também defende a CPMF. Segundo ele, uma receita anual de R$ 35 bilhões (essa é a estimativa para este ano) não pode ser suprimida de imediato. “Depois vamos discutir a desoneração”, completou.

O cientista político Carlos Luiz Strapazzon, professor do Centro Universitário Curitiba, comentou que este comportamento dos partidos está dentro do esperado.


“Os partidos do governo apóiam a manutenção da receita, sobretudo em ano pré-eleitoral”, disse, porque têm interesse nas receitas da CPMF. Já a oposição faz o contrário. “Ela tenta desestabilizar quem está no poder.”


Para Strapazzon, a comparação entre as votações de 1996 e deste ano mostra que o partido mais incoerente é o PT, “que se movimentou muito mais para a direita”. Ele lembrou que antes os petistas alegavam que a CPMF não era necessária, que onerava o trabalhador. Agora, passaram a ser favoráveis ao imposto.


“O PSDB também foi incoerente porque apoiava a CPMF e agora, por oportunismo, vota contra”, afirmou o professor. De acordo com ele, esse comportamento também contraria o próprio discurso do partido, que é o da responsabilidade fiscal, de gerir bem a máquina pública.


“O PMDB me parece mais coerente porque manteve apoio na política econômica, que é a mesma nos dois governos”, avaliou Strapazzon.

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