curitiba "no diminutivo"

Quem se dedicar a observar a cena política dos últimos anos vai identificar um fenômeno que tem preocupado muito: a obstinada afirmação de que fazer política é uma atividade administrativa. É essa versão administrativa da política, levemente disfarçada de liberalismo, centrada na idéia de boa gestão, que predomina nas principais democracias do ocidente e é traduzida pela idéia de governance. Sua máxima é que os países devem ser bem administrados, assim também os estados e os municípios.
Está implícito nesse entendimento uma robusta aceitação de que administrar interesses públicos é olhar, sobretudo, para o curto prazo, para os próximos 4 anos e, com isso, assegurar a vitória nas próximas eleições. E o caminho mais rápido é uma política de balcão, de varejo e minúscula. O candidato mobiliza uma super equipe para identificar e compreender os medos mais imediatos dos eleitores, suas angústias mais prioritárias. A partir daí constrói sua plataforma política. Neste ano a campanha eleitoral em Curitiba iniciou e os candidatos nem tinham plano de governo. Nem os partidos. E isso passou sem alarde. É que estamos aceitando candidatos compromissados com resultados eleitorais de curto prazo. É um modelo. Não o único, nem o melhor. Mas é o nosso. E qual é o custo dessa opção? O apequenamento da cidade e a transformação dos políticos municipais em proponentes de “mais do mesmo”, situação e oposição desejam ardorosamente fazer o mesmo que o titular do cargo atual está fazendo, só que com outra ou nova equipe. No caso da oposição, as propostas têm um brilho mais caprichado aqui, outro ali. Só. É a democracia sem opções que chegou às grandes cidades, é a convergência de discursos de todas as correntes políticas relevantes. É o pensamento único.
Nesta eleição acendemos uma luz: a gestão das cidades precisa de socorro. Estamos entrando num período histórico de arrepiar e as propostas de gestão desta cidade de Curitiba não têm conexão com os grandes temas deste século: o crime organizado, o desemprego estrutural, a degradação ambiental, a renovação das formas de energia, a gestão de regiões metropolitanas e a era do conhecimento. Esses temas são ilustres ausentes do debate político local. São temas globais, mas precisam de soluções locais, determinação e imaginação. Na verdade, a falta de imaginação e preparação de Curitiba para esses temas globais custa caro também ao Brasil.
Curitiba é uma cidade-chave. Temos responsabilidades que transcendem nosso horizonte doméstico cotidiano. Nossos candidatos nem pensaram nisso. De Curitiba, afinal, surgiram conceitos inovadores de responsabilidade ambiental, de mobilidade urbana, de proteção da infância, de espírito público que, ao que tudo indicava, tenderiam a torná-la um centro de criação de soluções urbanas que poderia ser replicado em tantas outras cidades. Precisamos de nossos futuros governantes decidida vontade de romper os velhos modelos de gestão. Não vi, no entanto, esse desejo nos olhos e nos compromissos dos candidatos. O curto prazo falou mais alto. Fica a impressão de que a cidade também deixou de lado esse orgulho e essa vocação que amadurecia em seu coração. Curitiba e curitibanos precisam voltar a cuidar um do outro - como nos bons tempos.

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